Estudantes manauaras se engajam pela higiene nas escolas
Darlen Queiroz, de 15 anos, estudante do 9º ano, mobiliza a escola para fortalecer direitos de meninas e meninos
Darlen Queiroz de Oliveira, manauara de 15 anos, estudante do 9º ano do Centro Integrado Municipal (Cmei) Professor Dr. Ademir de Oliveira, no bairro Distrito Industrial I, em Manaus, é uma adolescente que se define como defensora dos direitos humanos em projetos escolares. “Procuro sempre estudar e conversar com os professores sobre os projetos na escola para participar e engajar outros alunos. Gosto desta escola por ser diferenciada de todas as outras onde estudei, pois aqui não é somente conteúdo, mas existe toda uma integração para formação e vivência dos alunos como cidadãos”, declara.
No dia 13 de setembro de 2022, a escola em que Darlen se orgulha de estudar foi contemplada com o projeto de água, saneamento e higiene, uma realização do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e ADM, em parceria com a Prefeitura de Manaus, e implementado pela Visão Mundial. O projeto beneficia unidades de ensino localizadas em áreas de vulnerabilidade social com material de higiene e educativo. Nesse Cmei, foram entregues duas estações de lavagem de mãos e kits de higiene que inclui sabonete líquido, papel toalha e absorventes higiênicos para dignidade menstrual de meninas. A escola oferece desde a educação infantil ao 9º ano do ensino fundamental e tem cerca de 1.460 alunas e alunos matriculados.
Para a adolescente, a iniciativa é fundamental para que todos os alunos possam continuar se prevenindo da covid-19 e outras doenças, haja vista que se sentiu prejudicada nos estudos durante a pandemia e deseja não precisar mais ficar reclusa, sem poder frequentar a escola e ter contato com os amigos. “Foi muito difícil estudar durante a pandemia, pois, além de ter que lidar com o medo da doença, de perder pessoas queridas, havia muitos assuntos que não entendíamos e nem era possível esclarecer com o professor, como é quando estamos de forma presencial em sala de aula. Então, sei que não só eu, mas muitos alunos ficaram prejudicados e fico preocupada que esse atraso atrapalhe a concretização do meu sonho de estudar no ensino médio em uma escola técnica, como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), por exemplo, e também, mais na frente, de ingressar em uma universidade pública”, compartilha Darlen.
Retorno seguro à escola
Em 2021, quando as escolas reabriram e o ensino funcionou de forma híbrida, Darlen relembra que, mesmo preocupada em contrair ou transmitir a covid-19 para seus familiares, reacendeu em seu coração uma alegria e esperança de dias melhores em poder retornar ao ambiente escolar. “Fiquei muito feliz em poder voltar à escola e rever os amigos e professores. Sei que assim como aconteceu comigo, a pandemia afetou a saúde mental de muitos jovens que ficaram depressivos ou ansiosos. Então, poder ter a oportunidade de tomar a vacina e saber que a escola estava oferecendo uma estrutura segura para nos proteger me deu mais coragem para voltar a ter esse contato com todos”, afirma.
Darlen destaca também a importância de lavar as mãos para se proteger de doenças. “A pandemia ainda não acabou. Querendo ou não sempre há um medo de pegar o vírus. Ele continua circulando e mata. A estação de lavagem de mãos que chegou para nossa escola com certeza é importante para que possamos continuar lembrando de manter os cuidados de proteção e proteger todos ao nosso redor, principalmente nossos familiares”, enfatiza.
Legado e sonho
Darlen tem um olhar que brilha ao falar de seus sonhos, um deles é se tornar juíza. Ela defende que o processo educativo faz toda a diferença na vida de crianças e adolescentes e se sente feliz com a chegada do projeto de água, saneamento e higiene em sua escola. Para a adolescente, esse projeto é a concretização de um dos seus sonhos como militante dos direitos de meninas na escola, sobre o qual se manteve atenta e recentemente havia conversado com a direção da escola para ajudar outras alunas a passar por essa fase de forma digna. “Tudo começou quando uma aluna ficou menstruada na escola e a professora ficou meio desnorteada e precisou pedir absorvente das outras alunas até que ela chegou e pediu para mim e eu ajudei. Além disso, muitas meninas têm a primeira menstruação quando estão na escola; e a maioria não está preparada, está longe da mãe, de casa, e fica com muita vergonha. Então, com isso, vi a necessidade e conversei com a diretora da escola para disponibilizar absorventes em uma caixinha no banheiro das meninas, para que mais nenhuma menina precise passar por esse constrangimento”, conta a adolescente.
De acordo com a diretora interina da escola, Sandra Freitas, Darlen é uma menina excepcional. “Ela é sempre muito atenta e, ao ver as outras colegas passando por situações constrangedoras na escola em relação ao ciclo menstrual, Darlen logo me procurou e propôs que produzíssemos caixinhas personalizadas para disponibilizar absorventes higiênicos para as meninas. Estamos muito felizes com a chegada dessa parceria com o projeto do UNICEF, pois vamos conseguir oferecer o apoio necessário para o que é a realidade de muitas alunas em nossa escola”, declara contente a diretora.
A adolescente é daquelas meninas que sabe o que quer e acredita que pode superar barreiras e alcançar seu lugar ao sol. Além de participar de ações da escola como voluntária, participa do projeto “Despertar para as artes”, no qual toca violão e integra a orquestra oficial da escola. “Com esse projeto, participamos de apresentações importantes. Tocamos no Largo de São Sebastião, área histórica de Manaus, junto com a Orquestra de Violões do Amazonas, e foi muito gratificante, pois muitas vezes somos discriminados pela sociedade devido a morarmos em uma comunidade na Zona Leste de Manaus, mas com isso mostramos que podemos fazer diferente e temos nossa essência particular, que independe de onde moramos”, diz Darlen.
Na escola, Darlen também conta com o apoio de outros alunos e, em especial, de Levi Lima, 14 anos, que é seu amigo inseparável para estudos e projetos. “A Darlen chegou ano passado à escola e, quando voltamos às aulas, vínhamos em dias diferentes. Quando passamos a estudar juntos, logo no início, gerou uma certa concorrência por querermos ser cada vez melhor, mas logo nos aproximamos e, desde então, nos ajudamos mutuamente. E apesar de estarmos no último ano aqui, já fizemos muitos projetos juntos com a certeza de que ficará algo bom para os próximos alunos, pois esta escola é diferente, porque aqui nos sentimos verdadeiramente acolhidos”, declara Levi.
Darlen também afirma que fica já saudosa ao pensar em deixar a escola a partir de 2023, mas tem a certeza de que deixará um legado de militância pelos direitos dos adolescentes, em especial para as meninas. E para um futuro próximo, ela diz que continuará perseverando nos estudos para alcançar seus sonhos e ajudar outros meninos e meninas para que também possam encontrar o caminho certo, participar de projetos que os engrandeçam, para que vençam na vida, independentemente de suas condições de vulnerabilidade social.