Plano de Vida revela perspectivas de futuro dos indígenas da Venezuela

UNICEF e CIR lançam o Plano de Vida dos Povos Originários da Venezuela no Brasil, focado no desenvolvimento a longo prazo das populações que integram o fluxo migratório venezuelano

02 agosto 2023
Um homem fala no microfone. Ele está sentado a uma mesa. Há pessoas ao redor dele.
UNICEF/BRZ/Kelyson Souza
Alberto Conejero, indígena migrante, discursa durante o lançamento do Plano de Vida dos Povos Indígenas Originários da Venezuela – Warao, E’ñepa e Ka’riña no Brasil.

Boa Vista, 2 de agosto de 2023 – Entre os quase 480 mil venezuelanos que vivem no Brasil hoje, estão também indígenas: estima-se que mais de 7 mil indígenas originários da Venezuela tenham migrado ao Brasil desde o início do fluxo migratório. Assim como os povos indígenas brasileiros, muitos enfrentam uma situação de grande vulnerabilidade. Para que essas populações possam dialogar com as instituições brasileiras e tenham uma perspectiva de futuro, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em parceria com o Conselho Indígena de Roraima (CIR), lançou o Plano de Vida dos Povos Indígenas Originários da Venezuela – Warao, E’ñepa e Ka’riña no Brasil.

O documento é fruto de uma sequência de diálogos e trocas de experiências com esses grupos que residem, em sua maioria, em abrigos da Operação Acolhida, a resposta humanitária do Governo Federal e parceiros, em Roraima.

“O objetivo do Plano de Vida é subsidiar a elaboração de políticas públicas, ações, projetos e programas que facilitem a realização os anseios, desejos e sonhos das populações indígenas que foram forçadas a migrar para o Brasil. A construção deste documento aconteceu para que as vozes desses povos possam ser a base do planejamento de toda e qualquer organização que venha trabalhar com essa população”, afirma a coordenadora técnica para Assuntos Indígenas do UNICEF no Brasil, Léia do Vale.

Foto mostra uma mulher falando em um microfone. Ela está em pé atrás de uma mesa. Em primeiro plano, aparecem as cabeças de várias pessoas sentadas de costas para a câmera.
UNICEF/BRZ/Kelyson Souza
Léia do Vale, do UNICEF, discursa durante o lançamento do Plano de Vida, com a presença de indígenas originários da Venezuela e parceiros do Governo, da sociedade civil e agências da ONU.

Para os povos originários do Brasil, esse tipo de diálogo é muitas vezes cumprido pelos Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA), que não cabem para refugiados e migrantes, que não têm território e vivem em sua maioria em abrigos, em Roraima.

Para quebrar barreiras como o idioma, assim como assegurar a completa participação desses povos – em linha com a Convenção 169 da Organização Mundial do Trabalho (OIT), a Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, a Declaração Americana sobre os Direitos dos Povos Indígenas e a própria Constituição Federal de 1988 – a metodologia das oficinas utilizou também desenhos.

“Este documento é cíclico, tendo o seu período de construção, implementação, avaliação e revisão. Ele não é um plano estático e fechado, porque a comunidade se renova assim como as políticas mudam. Os povos indígenas têm autonomia para construir e recriar o plano conforme a sua realidade. O Plano de Vida traz a essência de que os povos indígenas têm de fazer a gestão de seus territórios e sua vida”, reforça Sineia do Vale, coordenadora do Departamento de Meio Ambiente do Conselho Indígena de Roraima.

Foto mostra uma papel grande com desenhos. Em pé ao lado do papel estão algumas pessoas.
UNICEF/BRZ/Kelyson Souza
Indígenas originários da Venezuela desenham seus anseios para o futuro em uma das oficinas de construção do Plano de Vida, em 2020.

As oficinas foram realizadas entre 2020 e 2022 em comunidades indígenas de Roraima. Em cada um dos encontros, os waraos, e´ñepas e ka’riñas também tiveram a possibilidade de compreender melhor como funciona o Estado brasileiro e dialogar com representantes de diferentes setores institucionais que têm relação com as suas necessidades, expectativas e demandas.

Esperança para seguir sonhando
Para Alberto Conejero, migrante do povo e’ñepa e que vive hoje no abrigo Jardim Floresta, em Boa Vista, a construção do Plano de Vida motivou a comunidade a visualizar as possibilidades de vida em seu novo país.

“Vimos que a luta de nossos irmãos brasileiros também é grande, sempre em defesa de suas terras para conservar a identidade cultural e suas histórias sagradas. Isso nos motiva a seguir lutando para manter a nossa cultura viva. Esse intercâmbio nos fortaleceu, pois aprendemos que temos direitos”, diz ele, que ressalta ainda a importância das oficinas. “Construímos o Plano de Vida Indígena durante dois anos, queremos seguir com esse diálogo e articulações com as instituições e, também, com o Governo Nacional”.

Os cinco encontros aconteceram na Comunidade Indígena Taba Lascada, no centro de formação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e no Lago Caracaranã, na perspectiva de que os povos de origem venezuelana pudessem conhecer os territórios de povos indígenas de Roraima.  

No Plano de Vida, os participantes trouxeram fortemente o desejo de ter suas crianças, seus adolescentes e jovens atendidos por políticas públicas qualificadas, como uma escola adequada, uma educação específica e diferenciada, acesso ao sistema de saúde e, possivelmente um mercado de trabalho acessível que atenda às especificidades e diversidades dessas populações.

Para realização desta iniciativa, o UNICEF conta com parceria estratégica com a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid) e com o Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (Echo, na sigla em inglês).

Contatos para a imprensa

Amanda Panarini
Oficial de Comunicação em Emergências
UNICEF Brasil
Telefone: (95) 98117 8628
Marco Prates
Oficial de Mudança Social e de Comportamento (SBC) e de Comunicação em Emergências
UNICEF Brasil
Telefone: (61) 99695 0123

Recursos

Capa da publicação Plano de Vida
Ferramenta de diálogo com as instituições brasileiras, documento sistematiza a visão de futuro dos povos que integram o fluxo migratório da Venezuela.

Sobre o UNICEF
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) trabalha em alguns dos lugares mais difíceis do planeta, para alcançar as crianças mais desfavorecidas do mundo. Em mais de 190 países e territórios, o UNICEF trabalha para cada criança, em todos os lugares, para construir um mundo melhor para todos.

Acompanhe nossas ações no Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, LinkedIn e TikTok.

Você também pode ajudar o UNICEF em suas ações. Faça uma doação agora.