Missão: levar meninos e meninas de volta para a escola

Marechal Thaumaturgo, no Acre, realizou uma força-tarefa por meio da Busca Ativa Escolar para encontrar crianças e adolescentes fora da escola no município

UNICEF Brasil
Foto mostra um menino sentado na cama escrevendo em um caderno. Do lado dele, em cima da cama, há uma mochila.
UNICEF/BRZ/Alécio Cezar
27 janeiro 2022

Alexandre Borges, de 12 anos, já não queria ir para a escola. Há alguns anos, o menino sofre com epilepsia e acabou passando por situações de bullying. Alexandre mora em Marechal Thaumaturgo, município no estado do Acre, acessível apenas por via aérea e fluvial, e para ter acesso ao tratamento adequado frequentemente precisava ir a Cruzeiro do Sul, cidade mais próxima. “O Alexandre é um menino estudioso, ele gostava da escola. Há 7 anos descobrimos a epilepsia, ele ficou doente, levamos pra Cruzeiro e nada de ficar bom. Aí ele desistiu, não quer ir para escola”, lembra sua avó e mãe de criação, Maria Elias Pinheiro. Em uma dessas ocasiões em que estava fora do município, ela acabou perdendo a data de matrícula para que Alexandre continuasse estudando.

Mas as coisas mudaram já que, naquele mesmo momento, as equipes da Secretaria de Educação e da Prefeitura do município estavam prontas para ir atrás e encontrar crianças e adolescentes que não haviam sido rematriculados. O município foi certificado pelo Selo UNICEF na edição 2017-2020, e está participando novamente na edição 2021-2024. Uma das ações para garantir os direitos de meninos e meninas na iniciativa é por meio da Busca Ativa Escolar.

Alexandre recebeu em casa a visita da equipe de Busca Ativa Escolar do município, que tomou as medidas necessárias para que ele fosse rematriculado. Logo em seguida, ele voltou a frequentar a escola. “Eu falei para ele: você tem que ir para a escola, porque a pessoa sem saber não é nada na vida”, diz Maria. “Na escola você vai aprender, vai ser um advogado, um médico, um engenheiro ou qualquer outra coisa. Mas sem estudo você não pode ser nada”, completa Maria.

Foto mostra um menino e uma mulher em pé, em uma varanda. Os dois estão olhando para a câmera, sorrindo.
UNICEF/BRZ/Alécio Cezar

Alexandre voltou à escola, e ainda está se readaptando. Mesmo durante a pandemia, ele seguiu estudando por meio das atividades impressas, e já voltou para o sistema híbrido de ensino, indo para a escola em dias alternados na semana. Apesar das dificuldades que enfrenta, ele conta que prefere estudar na escola do que em casa, já que tem a ajuda de professores e pode estar com seus amigos. “A coisa que eu mais gosto na escola é brincar com meus amigos”, diz o menino, que também ama Matemática e Português e sonha em um dia ser policial.

E, assim como Alexandre, muitas outras crianças também foram beneficiadas pela força-tarefa de busca ativa no município.

Busca Ativa Escolar em Marechal Thaumaturgo
Marechal Thaumaturgo está no estado do Acre, quase na fronteira com o Peru, possui cerca de 17 mil habitantes e se caracteriza por ser acessível apenas por via aérea e fluvial, sem rodovias ligadas ao município. Bem no meio da Amazônia, o município possui uma zona urbana e uma zona rural, que compreende aldeias indígenas e comunidades ribeirinhas ao redor dos rios. Ao todo, Marechal Thaumaturgo possui 5.140 estudantes, atendidos em 51 escolas. Destas, apenas seis estão localizadas na sede urbana do município, e todas as demais estão distribuídas ao longo dos rios. “Setenta e cinco por cento dos nossos alunos estão localizados nas áreas rurais, e a única forma de acesso é através dos rios”, explica o secretário de Educação do município, Eclínio Nascimento.

Foto mostra a vista aérea de uma cidade encravada no meio da floresta. Ao lado há um grande rio.
UNICEF/BRZ/Alécio Cezar

Por conta disso, a logística para chegar até os estudantes pode ser muito complicada. “Nós temos alunos dos quais o coordenador faz o acompanhamento e ele leva mais de um dia para chegar até as comunidades”, diz o secretário. Durante a pandemia de covid-19, com as escolas fechadas, o desafio ficou ainda maior, já que o município precisou se mobilizar para realizar a entrega de atividades escolares inclusive nos locais mais distantes, de barco.

“Os materiais didáticos e pedagógicos, merenda escolar, combustíveis para transporte, para tudo isso temos que trabalhar uma logística que chegue ao aluno. Então, essas são algumas características que tornam esse trabalho um pouco mais desafiador. E, quando se consegue dar um bom andamento, algo que temos conseguido, também o torna mais prazeroso, porque é uma conquista”, conta Eclínio.

Participando do Selo UNICEF, a Busca Ativa Escolar é uma das ações obrigatórias que devem ser cumpridas para que municípios sejam certificados. Mesmo com as dificuldades, rapidamente Marechal Thaumaturgo se articulou para ir atrás de estudantes que não estavam matriculados ou que não haviam voltado para a escola, tanto na zona urbana quanto rural. “Nós tínhamos muitas notificações, muitos registros de alunos que figuravam como fora da escola. Iniciamos então uma corrida e precisávamos exatamente fazer o percurso dessas crianças para que a gente pudesse bater a meta”, lembra o secretário.

Foto mostra um homem sentado a uma mesa, em frente a um quadro de aviso. Ele está olhando para a câmera sorrindo.
UNICEF/BRZ/Alécio Cezar

Foi um mês intenso de força-tarefa que envolveu profissionais de educação, saúde e assistência social, em um trabalho inédito no município. As escolas passaram a ter um papel ativo na busca, com coordenadores pedagógicos, diretores e professores identificando as crianças evadidas por meio da frequência escolar e, durante a pandemia, por meio daqueles que não iam até a escola buscar as atividades impressas.

Além disso, para envolver a população, trabalharam entregando panfletos, colocando cartazes nos prédios públicos e até fizeram uma carreata pela cidade para informar pais, mães e responsáveis sobre a importância de estar na escola. “Aqui em Marechal Thaumaturgo, se você fala em Busca Ativa Escolar, em qualquer lugar, as pessoas vão saber o que é ou vão encontrar um relato de alguém que o filho voltou pra escola por causa da Busca Ativa”, alegra-se Eclínio.

E a articulação teve bons resultados: foram mais de 200 crianças encontradas. Agora, com a iniciativa já estruturada no município, esperam levar de volta para a escola ainda mais meninos e meninas e fortalecer o trabalho para que vire rotina de todas as áreas. “Quando encontramos registros de crianças que desistiram das aulas, buscamos, fazemos a matrícula, essa criança permanece na sala de aula e, no final do ano letivo, você a vê aprovada e com ânimo de estudar, você percebe que pode ter salvo uma vida ali”, conclui o secretário, feliz com o trabalho.