“Meu sonho é entrar na Escola de Música Tom Jobim”
Estela Pereira, de 14 anos, quer ser musicista e ampliou sua cultura periférica a partir do Núcleo de Cidadania de Adolescentes da Cidade Tiradentes
Morando no extremo leste da capital paulista, Estela Pereira, de 14 anos, divide seu dia a dia entre duas residências – uma com a avó, em São Matheus, e uma com a mãe, na Cidade Tiradentes. A adolescente, que está no 9º ano do ensino fundamental, faz parte do primeiro Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca) criado no território a partir do projeto “Artivistas em Construção” – iniciativa do UNICEF, com parceria estratégica da Fundação Abertis e de implementação do Instituto Pombas Urbanas, que se soma às ações da #AgendaCidadeUNICEF em São Paulo.
Estela é uma multiartista que sonha em trabalhar com música profissionalmente e, para isso, planeja entrar na Escola de Música do Estado de São Paulo Tom Jobim – uma das principais do Brasil.
“Sei que vai ser difícil, mas vou tentar até conseguir. Para uma pessoa periférica, é bem difícil viver de música. Aula de música é caro, instrumento é caro. Não desmerecendo, mas gente que tem dinheiro é mais fácil. A periferia tem muito querer, mas é preciso abrir mão de muita coisa. Os jovens precisam ajudar em casa, ajudar os pais”, diz. Estela sabe tocar piano, órgão, violino, violão e flauta.
Além da música, ela é apaixonada por diversas expressões artísticas, entre elas, teatro, grafite, pintura de telas e balé. E foi por isso que a adolescente se interessou por participar das conversas e intervenções que o grupo de 25 jovens e adolescentes realiza por meio do Nuca, utilizando o “artivismo” como ferramenta de incidência. “Estar aqui abriu minha cabeça para uma série de coisas, principalmente sobre arte, além de ter me ajudado enfrentar a depressão”, conta.
Em um dos debates, Estela conta que teve contato com a arte da projeção. “O professor, que também é grafiteiro, contou sobre um episódio em que ele projetou no principal hospital da Cidade Tiradentes mensagens sobre a importância da vacinação contra a covid-19 durante a pandemia. Isso é muito legal”.
Com o Nuca, Estela também passou a questionar o papel das políticas públicas em relação à arte na periferia. “O governo tem muito a oferecer, não pagamos impostos à toa. A cultura na Cidade Tiradentes é muito forte, são pessoas pretas e nordestinas que, muitas vezes, desconhecem e não valorizam a própria cultura. E tudo isso por conta do trabalho longe, falta de tempo e de dinheiro. Acredito que tudo isso seja um problema estrutural que pode ser amenizado se houver vontade por parte das pessoas que estão no governo”, conclui.
Realizada na Cidade Tiradentes, território prioritário da #AgendaCidadeUNICEF na capital paulista, a iniciativa “Artivistas em Construção” visa promover a participação cidadã de adolescentes e jovens e, em 2022, fomentou a criação do primeiro Núcleo de Cidadania de Adolescentes local (Nuca CT), formado por jovens lideranças engajadas na discussão e na proposição de políticas públicas para o território.