"Com espaço para desabafar, a gente consegue ajudar o outro"

Henrique encontrou na família e no Nuca de Vila Bela da Santíssima Trindade, MT, o apoio para cuidar de sua saúde mental e apoiar outros adolescentes

UNICEF Brasil
Foto mostra um adolescente olhando para a câmera. Ele usa óculos e está sorrindo. Atrás dele há árvores e o horizonte.
UNICEF/BRZ/Alécio Cezar
19 julho 2022

Henrique de Carvalho de Souza, 14 anos, mora em Vila Bela da Santíssima Trindade, município localizado no Mato Grosso, participante do Selo UNICEF. Para ele, a pandemia foi um período bem desafiador. “Não me adaptei ao ensino a distância, minhas notas sempre foram boas e começaram a cair, isso me gerou ansiedade”, explica o adolescente.

O retorno às aulas presenciais, também, foi motivo para dúvidas. “Eu ficava bem ansioso com a volta às aulas, o sentimento que me despertava era de insegurança, eu tinha medo da contaminação”, conta Henrique.

O adolescente diz ter guardado muitos sentimentos. “No começo, não busquei ninguém para conversar por medo e insegurança, foi estranho. Eu queria o tempo todo conversar com alguém, mas nunca dava. Eu queria desabafar, mas tinha medo de alguém me julgar”. Naquele momento, ele encontrou apoio em sua família, na mãe e na tia. “Hoje em dia converso muito com minha mãe. Quando estou ansioso, minha perna começa a balançar, então tento respirar bem fundo para fazê-la parar de balançar”.

A sensação de acolhimento e de ter um espaço seguro para falar sobre tudo o que vivenciou foi o que motivou Henrique a ingressar no Núcleo de Cidadania de Adolescentes (Nuca) de Vila Bela da Santíssima Trindade, iniciativa do Selo UNICEF. Ele reforça que dialogar sobre saúde mental contribui para a sensação de bem-estar. “Com um espaço para desabafar e dialogar, a gente consegue ajudar o outro e entender o que o outro está passando. Conforme vamos discutindo, minha visão vai se abrindo”, diz Henrique.

Rede de apoio em prol da saúde mental
Para apoiar crianças e adolescentes em sua saúde mental, o município de Vila Bela da Santíssima Trindade aborda a perspectiva do desenvolvimento integral e bem-estar. A ação que o município está desenvolvendo está articulada com a escola, o centro de saúde, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e o Centro de Apoio Psicossocial (Caps).

Uma das portas de entrada para os atendimentos de crianças e adolescentes sobre saúde mental é o encaminhamento por meio do Cras e postos de saúde da família. “A saúde mental é para trazer mais facilidade para nossas relações pessoais, aceitação das dificuldades, facilitar tomada de decisões e autoconhecimento. Temos que ter um cuidado com a saúde mental, assim como temos com qualquer outra questão de saúde física”, diz Natália Bartolomeu Reis, psicóloga da Unidade Descentralizada de Reabilitação (UDR) de Vila Bela da Santíssima Trindade.

Foto mostra uma mulher de jaleco branco. Ela está olhando para a câmera, sorrindo
UNICEF/BRZ/Alécio Cezar

Atualmente, a maior parte da demanda do município está concentrada nas zonas rurais, onde se percebe situações de dificuldade de aceitação e, em determinados locais, resistências às intervenções. “Quando eles ingressam no atendimento, temos um trabalho para quebrar o tabu e de sensibilização da saúde mental, quando procurar e para que serve, e só depois entramos nas questões do encaminhamento”, relata Natália.

Outro ponto de apoio para crianças e adolescentes é o Centro de Referência de Assistência Social (Cras), onde é feito um acompanhamento mensal das famílias com programas, orientações e encaminhamentos para as redes designadas para cada caso.

“No centro de convivência para crianças e adolescentes, temos aulas de pintura, artesanato e música. Temos um orientador social que faz atividades de prevenção sobre drogas, tipos de violência e conscientização de exploração sexual e abuso infantil”, diz Angelino Fernando, psicólogo do Cras e técnico de referência do centro de convivência em Vila Bela da Santíssima Trindade.

Os professores também são importantes agentes para a escuta acolhedora e para que torne a vida do indivíduo mais funcional e adaptativa em qualquer esfera. “São os professores que passam a maior parte do tempo com os alunos, eles são fundamentais para acolher a angústia das crianças e dos adolescentes”, afirma a psicóloga Natália.

Pela metodologia do Selo UNICEF, o desenvolvimento integral, a saúde mental e o bem-estar de crianças e adolescentes na segunda década da vida fazem parte do resultado sistêmico número 5. Então, para além das ações específicas desse resultado sistêmico, será preciso fortalecer processos participativos; empoderar as meninas; reduzir desigualdades de gênero; enfrentar o racismo institucional; fomentar espaços de socialização que valorizem a diversidade; fortalecer os Nucas; assegurar o retorno à escola; e promover a atenção integral.

Selo UNICEF – O Selo UNICEF é a principal iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Brasil e atua a partir do estímulo e reconhecimento de avanços reais e positivos na promoção, realização e garantia dos direitos de crianças e adolescentes em municípios do Semiárido e da Amazônia Legal brasileira. A Edição 2021-2024 conta com a participação de 2.023 municípios de 18 Estados brasileiros, sendo 676 na Amazônia e 1.347 no Semiárido. Seu sucesso é resultado da parceria entre o UNICEF e muitos parceiros, a exemplo de governos estaduais e municipais por meio da atuação integrada entre diferentes níveis de governo voltados para crianças e adolescentes.

Pode falar – O Pode falar, canal de ajuda virtual em saúde mental e bem-estar para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos, criado pelo UNICEF, teve mais de 38 mil atendimentos e segue disponível, oferecendo materiais, testemunhos e ajuda de profissionais, que atendem de forma anônima e gratuita por meio de um chatbot, que pode ser acessado pelo site podefalar.org.br ou pelo WhatsApp.