Um caso de persistência: Fernanda e Thaemylli
A estratégia da Busca Ativa Escolar prevê o acompanhamento de um ano após o regresso à sala de aula para garantir a frequência e a aprendizagem
Quando o alerta da Busca Ativa Escolar (BAE) foi emitido as irmãs Maria Fernanda Santos, 11 anos, e Thaemylli da Silva, 9 anos, estavam fora da escola há mais de seis meses. O caso foi identificado durante uma atividade do serviço de convivência na comunidade de Palatéia, em Barra de São Miguel, Alagoas, onde as meninas moram. Desde então, as secretarias de educação e de assistência social vêm atuando em conjunto para garantir o suporte necessário à família, incluindo um acompanhamento próximo e contínuo para manter as crianças na sala de aula.
Responsável pela identificação das meninas, o coordenador do serviço de convivência, Paulo Roberto da Silva, percebeu que as irmãs estavam fora da escola durante as atividades que realizava na comunidade rural. Assim que acabou a ação, ele lembra que perguntou se podia conversar com os responsáveis delas. “Pensei que precisávamos agir rápido, pois elas não podiam perder mais um ano de escola. Elas me levaram até a mãe, que foi receptiva e informou que tinham se mudado de outro município, onde as meninas também não estudavam, e ainda não tinha realizado a matrícula delas”, conta Paulo, acrescentando que, a partir disso, acionou a coordenação da BAE no município.
O levantamento da equipe da Busca Ativa Escolar (BAE) indicou que as irmãs apresentavam infrequência escolar desde 2018, quando deixaram de frequentar a creche localizada na comunidade onde moram. Com essas informações, a coordenadora operacional da BAE, Danyela Alves, realizou uma visita à família, já com a ficha de matrícula e com a presença da Secretária de Assistência, que fez questão de participar. Nessa mesma visita, a mãe assinou a rematrícula. “Nós conversamos bastante. A mãe explicou que precisou se deslocar da cidade por questões socioeconômicas e que, por esse mesmo motivo e pela distância de sua casa para a escola, ainda não tinha rematriculado as meninas”, relembra Danyela.
Após a visita, segundo a coordenadora, a assistência garantiu os itens básicos de higiene e material escolar e as irmãs foram incluídas no transporte escolar. Na ocasião, a mãe das meninas, Fabiana Santos Silva, estava grávida do filho caçula, Oseias, atualmente com cinco meses. “Eu quero muito que as meninas terminem a escola para ter um futuro melhor. Sou grata que vieram aqui nos ajudar”, disse, ressaltando que é difícil manter sozinha uma rotina organizada com as três filhas e, agora, o recém-nascido. “Na última semana mesmo, Oseias estava doente, precisei levar no médico e as meninas adoeceram e faltaram. Só quem consegue ir mais fácil é a mais nova porque a creche é aqui ao lado”, conta.
Adaptação – As duas irmãs estão cursando o 1º ano do Ensino Fundamental, cada uma em uma turma, na Escola Francelina Maria da Conceição Lira. Aos 11 anos, Fernanda se destaca junto a colegas que, em sua maioria, têm 7 e 8 anos. Ela tem tido aulas de reforço na própria escola para avançar na aprendizagem, mas as faltas ainda atrapalham. Fernanda diz que até gosta de ir para a escola, mas tem dificuldade de acordar cedo e, às vezes, perde a hora do ônibus escolar. Quando isso ocorre, elas perdem o dia de aula. Thaemylli parece mais adaptada à sala de aula, sorri e brinca com facilidade com seus colegas.
Intersetorialidade – Quando estava grávida, Fabiana foi acompanhada pelo serviço de saúde do município. Mas, após o caso ser mapeado pela estratégia da Busca Ativa Escolar, ela passou a ter também o suporte da rede de assistência social. “As crianças foram incluídas no programa do Cadastro Único e a mãe teve acesso à iniciativa Casa da Sopa”, disse a coordenadora da BAE. Segundo a secretária de assistência social de Barra de São Miguel, Denaide Holanda, a Busca Ativa Escolar favorece a intersetorialidade e a responsabilidade coletiva por uma solução para cada criança. “A BAE ajuda a acionar as outras áreas, que acabam identificando os casos e as soluções vêm à tona de forma conjunta”, destaca.
Considerando a complexidade de alguns casos, a coordenadora operacional da BAE destaca que o alerta não acaba com confirmação da matrícula ou rematrícula. “É preciso estar sempre atento, buscar saber os motivos da falta, acompanhar para que as crianças permaneçam na escola. Em caso de ausência, saber do que estão precisando”, reforçou Danyela, citando a importância da persistência na garantia de acesso aos direitos de crianças e adolescentes.
Sobre a Busca Ativa Escolar
A Busca Ativa Escolar é uma estratégia composta por uma metodologia social e uma plataforma tecnológica disponibilizada gratuitamente para estados e municípios. A metodologia apoia para identificar crianças e adolescentes fora da escola ou em risco de abandono, os motivos que os levaram a essa situação, seu atendimento pelos serviços da rede de proteção e sua (re)matrícula e permanência na escola. A plataforma apoia para o registro dos dados de cada caso que está sendo acompanhado, para facilitar o diálogo intersetorial e para o monitoramento e a avaliação de dados e de evidências, ajudando na melhor tomada de decisões por parte da gestão pública.
A Busca Ativa Escolar é uma iniciativa do UNICEF e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Para a Busca Ativa Escolar, o UNICEF conta com os parceiros estratégicos B3 Social, BRK Ambiental, EDP, Grupo Profarma, Itaú Social, NEOOH, e com o parceiro Bracell.